quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Jogos e interação


 Jogos como meio de interação e Aprendizagem


Profª Drª Vera Lúcia Grando

Os falares educacionais percorrem eixos diacrônicos e sincrônicos da fala, pensamentos de esquerda, de direita, teorias iluministas, marxistas, behavioristas, piagetianas, freudianas, de Darwin, de Vygotsky, de Skinner, de Chomsky dentre  muitos outros. Despertam adversidades, estabelecem amálgamas, tentativas de  rupturas com um passado educacional, mas ao mesmo tempo há retomadas de teorias e comportamentos.
Mediante um espectro de metodologias, ainda profissionais da Educação caminham por labirintos em relação à questão de ensino-aprendizagem. Nela, tudo é medido, mensurado, mas os resultados sempre colocados na mídia, em especial, no Brasil,  mostram-se aquém do esperado pelo sistema mundial, pois índices apontam qualidade baixa de ensino.
 Os professores, educadores, pesquisadores, visando a um novo cenário educacional no Brasil, buscam  novas tecnologias e alternativas , tentam novas maneiras e olhares para a práxis educacional. Para isso, além de cursarem programas de pós-graduação, pesquisarem, frequentarem cursos de formação, podem receber bolsas concedidas por Órgãos Governamentais, bem como de Fundações e Institutos Privados.
 A Universidade Presbiteriana Mackenzie faz parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID, oferecido pela CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e fez parceria com a EE Caetano de Campos- Aclimação, localizada em São Paulo para estabelecer um local para seus alunos bolsistas do PIBID, do Curso de Letras da Mackenzie, desenvolverem atividades educacionais com o intuito de colaborar com o ensino-aprendizagem na Caetano de Campos, na área de Língua Portuguesa.
A Escola Caetano de Campos é a antiga  Escola Normal Caetano de Campos fundada inicialmente em 16 de março de 1846  e funcionava no prédio anexo à Catedral da Sé velha . Foi transferida para a Praça da República para o edifício projetado por Antônio Francisco de Paula Sousa e Ramos de Azevedo inaugurado em 1894 onde atualmente está instalada a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. A escola ao sair desse edifício, em 1978 foi transferida para o bairro da Aclimação, em uma edificação moderna, situada no antigo terreno da Faculdade de Veterinária da Universidade de São Paulo.
Atualmente, a escola em sua proposta pedagógica  fundamenta-se na lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional- LDB 9.394/96, na Constituição Brasileira, no Estatuto da Criança e do Adolescente, no disposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN e no Currículo da Secretaria de Estado de Educação . Seu quadro de estudantes se alterou, pois não são mais  normalistas a estudar e levar o conhecimento para o restante do Brasil, mas um lugar ocupado e vivenciado por alunos, cerca de 1800, da capital e provenientes de várias regiões do Brasil, em particular,  do nordeste. Trazem cada um em seu bojo, as marcas da linguagem que os distinguem, quer pela renda da classe média àquela ao limite da miséria, quer pela fala em que se notam as diversidades de experiências sociais, do conhecimento e língua falada e escrita. 
Em um primeiro momento da parceria, houve uma reunião com o representante da Universidade na escola é o Prof. Dr. Ronaldo de Oliveira, coordenador institucional do projeto, do curso de Letras, no Centro de Comunicações e Letras e as coordenadoras da Caetano de Campos, Maria do Carmo Delalana e Lielza Letechebere, supervisora do projeto na escola e professora de Língua Portuguesa Vera Lúcia Grando e Cleonice de Lima Agena, Professora de Ciências  e Profª Sônia Maria Sulas, de Língua Portuguesa, na qual analisaram-se as possibilidades de aplicações do projeto, conforme as disponibilidades de horários dos bolsistas e dos professores da casa. Foram verificados os conteúdos abordados pelos professores de Língua Portuguesa e a pertinência das aplicações dos conteúdos.
Sabendo-se das dificuldades de muitos alunos, principalmente daqueles do Fundamental, cujos pais moram em pensão, em cortiços e locais em que não oferecem um espaço de diversão, do lúdico para a aprendizagem por meio de brincadeiras ou jogos, foram sugeridos pela escola, aos alunos da Mackenzie, aplicação de jogos nas aulas de Língua Portuguesa e Ciências, uma vez que o lúdico faz parte do processo ensino-aprendizagem e, com os jogos, os alunos se interagem, discutem as possibilidades de acertos e erros, aprendem a perder e a ganhar, aprendem a respeitar o turno alheio, trabalham as emoções, o aspecto visual, sonoro da linguagem, socializam o conhecimento de maneira divertida, entre outros argumentos. Essa sugestão foi aceita, mas segundo considerações feitas pelos bolsistas, alguns deles não acreditavam a priori que a aplicação de jogos iria dar certo, pois eram estagiários na escola Caetano e observavam que os alunos não participavam muito das aulas regulares. Além  dos jogos, formou-se um  plantão de dúvidas como reforço do conteúdo adquirido ao longo da vida escolar do aluno.
A primeira fase do projeto teve início em meados de agosto e seu término em dezembro, com dez bolsistas universitários, Adriana Mancini Lelis, Camila Nogueira, Daniel Camilo M. Rezende, Daniele Silvério Delaqua Corbo,Fernanda Ferreira Silva Nascimento, Marcos Vinícius da Silva, Palloma dos Santos de Jesus, Paulo Henrique G. O. da Silva, Rodrigo Cruz de Sillos, Stella Simão Gomes, os quais se organizaram em grupos para a elaboração e execução tarefas de aplicações de materiais ou aulas preparadas por eles mesmos. Os grupos prepararam o material de jogos para ser aplicados nos sextos anos e  ficaram disponíveis para as perguntas de alunos que por ventura os procurassem no plantão dúvidas.
Em sala de aula, os jogos foram muito bem aceitos pelos alunos, todavia há sempre um ou dois alunos que se recusam a jogar ou querem mudar as regras do jogo. Os bolsistas criaram jogos ou adaptaram alguns já existentes. Eis alguns deles: 1-Jogo dos acentos. Os alunos deveriam escolher a alternativa correta, se a palavra havia ou não o acento gráfico. Os alunos gostaram muito desse jogo; 2-Jogo das vírgulas. Os alunos tinham de dizer se no espaço deixado em branco havia ou não uma vírgula.  Participaram do jogo sem rejeição pelo assunto; 3-Soletrando: Gostaram muito do jogo, aplaudiam aqueles que acertavam as perguntas; 4- Montagem de texto, reorganização dos parágrafos do texto sobre ecologia. Os alunos solicitaram uma nova aplicação em classe; 5-Palavras recicláveis ou não. Os alunos escolheram a forma correta da escrita das palavras. As erradas depositavam-nas no pote de reciclados e as corretas no pote do armazém; 6-Palavras cruzadas. Os alunos tinham de formar palavras cruzadas a partir de substantivos comuns. Esse foi um jogo que no parecer dos bolsistas, os alunos gostarem menos, mas mesmo assim houve boa adesão; 7- Expressões regionais. Neste jogo, lançava-se o dado que parava em uma região O aplicador sorteava uma frase da região e os alunos deveriam explicar o significado; 8- Jogo dos nomes e da escrita das partes do corpo. Foram participativos, eles tinham  de escrever o substantivo na lousa.
A participação dos alunos, chegando a certos momentos `a euforia, não confirma a hipótese dos bolsistas de que haveria pouca participação, todavia comprova que eles gostam e precisam do lúdico para se interagirem e que mesmo sendo as classes heterogêneas e com mescla de perfis sociais  superaram às expectativas, pois cumpriram todos os desafios propostos pelo grupo de bolsistas que trabalhou com interdisciplinaridade, em especial, na classe da  Profª Cleonice Miranda, de Ciências.
 Também os bolsistas pensavam que os alunos teriam mais dificuldades em alguns itens como na escrita de verbos ou palavras consideradas fáceis ou difíceis, entretanto, na verdade, algumas vezes ocorria o inverso o que se explica pela diversidade de vivências, leituras, práxis individual do alunado.  Pôde-se ainda nesta experiência, do lúdico com as crianças, estabelecer-se um  desenvolvimento de uma relação de afeto entre os alunos, bolsistas e professores e que aprender por meio do brincar, do lúdico torna a língua mais funcional que a forma tradicional. Ainda os bolsistas notaram  que para lidar com crianças, deve-se chegar como amigo, ter muita paciência, não ficar nervoso, não usar palavrões, não entrar nas provocações, pois os alunos testam, jogam com isso   e um ou outro quer ver o professor  em desequilíbrio. Também não se deve subestimar o aluno, pois anteriormente acreditavam que seria mais difícil lidar com eles e se conscientizaram que não se deve generalizar alunos, salas ou grupos. Acrescentaram que os alunos não apresentaram nada de anormal, pois esperavam que fosse mais difícil lidar com eles e que são muito agitados, a tal ponto de  o aplicador precisar gritar para chamar-lhes  a atenção ou tê-la  voltada para a fala do jogo.
Outra observação feita por eles é que no momento da aplicação, eles chegaram a respeitar mais os aplicadores que a professora da classe e sugeriram que se fizesse a conscientização dos pais pelas questões da falta de respeito com o professor em classe . Pontua-se que talvez esse comportamento se deva ao fato de eles transferirem a responsabilidade para o detentor do jogo, para aquele que tem o conhecimento sobre o assunto apresentado naquela situação. E outro fator muito importante  talvez, tenha sido o fato do domínio do conteúdo, pois  os bolsistas precisaram confeccionar os jogos, estudar o assunto, principalmente a acentuação e ortografia para poder aplicá-los em classe .
            Se por um lado, no que tangia à aplicação dos jogos, tiveram sucesso, pois todos os alunos gostaram das aplicações feitas em classe, haja vista que esperavam a chegada deles todas as quartas-feiras. Já o plantão de dúvidas não houve tanto êxito,  não deu certo, apesar do esforços de todos empregados, ainda que o grupo de bolsistas tenham confeccionados cartazes com endereço eletrônico e página no facebook para divulgar o trabalho dos bolsistas- Pibid e para meio de contato entre bolsistas e alunos da Caetano Os cartazes  foram afixados nos corredores e sala de leitura da Escola Caetano. Porém, não houve um retorno satisfatório, pois apenas uma aluna da 8ª série compareceu para indagar a respeito do conceito de crônica  no Plantão de Dúvidas. Talvez isso, deveu-se  ao período de provas e fechamento do ano letivo, além de um pequeno problema ocorrido na página do facebook, pois não se conseguia acessá-la, porque aparecia outro grupo de Pibid, o qual atuava na Caetano de Campos- Consolação. Contudo, pode-se arriscar a dizer que boa parte dos alunos cumprem suas tarefas que estão às suas mãos, cujas atividades exigem uma dinâmica do sair e buscar parece não satisfazê-los. Seria um comportamento habitual da chamada geração y que alguns psicólogos  e empresários vem comentando, a qual busca os meios diretos e fáceis, que não vão além do solicitado?
Indaga-se  por que os jogos agradam a todos? Seriam eles uma espécie de zona proximal entre os vários conhecimentos dos vários estudantes, uma interação do consenso comum? Ou seriam eles o campo de mediação entre o abstrato e o concreto de que os alunos ainda precisam nesta fase das quintas –séries, sextos anos? Ou ainda por que é um arquétipo de gerações passadas, traços imanentes recuperados na vivência e o que vale é vencer mesmo que seja no imaginário? Seriam necessárias mais aplicações de jogos em séries, repetí-las durante o ano letivo, usando as mesmas palavras para verificar se os alunos  realmente assimilaram o conteúdo oferecido pelos jogos.
Referências
MEC. Lei de Diretrizes e Bases- LDB, 1996.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa. Brasília:MEC/SEF,          1998
SE. Curso de Formação do Estado de São Paulo, 2010.
 SE.Currículo do Estado de São Paulo- Linguagens, Codigos e suas  Tecnologias,2010

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